INDIVIDUALISMOS COLETIVOS
Demétrio Sena - Magé
Quem tem o dom verdadeiro do fazer cultural vive tempos ingratos, nos quais precisa dar a palavra de que não pretende ser uma pedra no sapato, nos ambientes coletivos da cultura. Precisa sempre parecer cordato, ficar à meia luz e ter imenso cuidado para não arranhar nenhum brio ao seu redor.
É tanta gente fútil, desesperada para ocupar todos os espaços... é tanta gente vazia querendo encher cada palmo dos ambientes... tanta gente com excesso de aparato e gula de palco, microfone, protagonismo, flashes fotográficos e atenções... é tanta gente auto publicitária sem qualquer conteúdo relevante, que todo mundo se ofusca mutuamente, com disparos culturais de festim, e tudo se torna um pequeno ou grande ringue onde os eus criam seus nós à prova do nós.
Nos ajuntamentos (ou eventos) culturais de nossos arredores não existe a coletividade. Existem, sim, individualismos coletivos, nos quais os dons que pareçam "ameaçadores" precisam se manter nos cantos ou guetos locais. Tudo isso, porque um ato e uma palavra podem simplesmente desmascarar o avesso oco da maioria - geralmente os "donos" do evento, patrocinadores e outros parceiros materiais. Dons verdadeiros são realmente ameaçadores; neste caso, sem as aspas.
Esses dons, convidados apenas por questão de protocolo, quase precisam prometer aos olhos de quem convida, que chegarão devagarinho. Que não darão o melhor de si; farão de tudo para não se destacarem muito nas poucas oportunidades que terão de se manifestar como fazedores culturais.
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Respeite autorias. É lei