INESGOTÁVEIS E INEGOSTÁVEIS
Demétrio Sena - Magé
Aos olhos de qualquer patrão, só existem dois tipos de trabalhadores. Um deles, que o patrão adora, não como pessoa, mas como burro de carga, é o trabalhador inesgotável: aquele pobre coitado que trabalha incansavelmente, sem nenhum reconhecimento palpável; vai além do horário, não recebe hora extra e não reclama. Também não reclama das condições precárias, do salário mensal injusto nem do tratamento patronal entre ríspido e frio. É um bajulador irremediável.
O outro tipo de trabalhador (desse, o patrão não gosta, como pessoa nem como trabalhador), é o inegostável. Quase dá para confundir com inesgotável, mas, por favor, não confunda. Esse dá um pouco de trabalho ao patrão, como cidadão e trabalhador, pois faz questão de seus direitos e não é capaz de qualquer sacrifício por quem só pensa em ficar cada vez mais rico e deixá-lo cada vez mais pobre. Tais trabalhadores são inegostáveis, porque não são inesgotáveis.
O problema do trabalhador inesgotável, é que a sua utopia de ser gostável pelo patrão sempre se frustra nos momentos cruciais. Naqueles momentos em que ele pensa que terá o seu reconhecimento formal; trabalhista. É nesses momentos que o trabalhador inesgotável sente-se inegostável para si mesmo, além daqueles colegas de trabalho que ele foi capaz de prejudicar, pelo seu patrão.
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