NÃO PASSOU - AINDA PRECISO DIZER
Demétrio Sena - Magé
O que menos interessa ao poder público do Rio de Janeiro é acabar com o domínio da bandidagem nos complexos de favelas. É preciso que haja sempre um bom "estoque" de "soldados rasos do crime". Os "comandantes" invariavelmente fogem, avisados por não sei quem, enquanto os governantes fazem seus espetáculos macabros próximo às eleições ou quando suas popularidades estão em queda nas pesquisas de opinião. Essa é a chave de todo o questionamento.
As Unidades de Polícia Pacificadora - UPP -, criadas no governo Sérgio Cabral teriam dado certo, se não tivesse ocorrrido corrupção em tamanha escala. Se o projeto, à época, tivesse contado com seriedade, constância e critério, mais do que, indubitavelmente, com pirotecnia. O que demanda pirotecnia já começa pelo fracasso. A truculência (que me preocupa em razão dos moradores, as maiores vítimas de todos os lados) nunca resolveu. Como a diz a música Mosca na Sopa, sucesso de Raul Seixas: "E não adianta /vir me detetizar, / pois nem o DDT pode assim me exterminar, / porque cê mata uma / e vem outra em meu lugar...".
Entrar no complexo, próximo às eleições, matar e sair, é como um "machão brabo" desafiar um vizinho, sem saber do que ele é capaz, e depois sair, deixando expostos esposa e filhos. Dando-lhe a chance de se vingar do machão, em sua família. "Ouriçar" a bandidagem com a matança de muitos e depois não ocupar, não tomar posse, deixar os chefões à vontade para reorganizar o contingente com as centenas que ficam, é insensato e cruel... é deixar as famílias simples e honestas locais expostas ao preço a pagar, sem nenhuma proteção do poder público.
A morte brutal de uma moça no dia seguinte à operação carnificina (como classifico) determinada pelo governo do Estado do Rio de Janeiro, com uma bala oriunda do mesmo complexo, mostra bem o que digo: nada mudou. Nada foi resolvido. Ninguém ficou seguro. Os moradores continuarão convivendo com guerras quase diárias. Quando não do Comando Vermelho contra o TCP, de alguna milícia contra um dos comandos; quando não com guerras entre polícia e traficantes, com guerras entre os traficantes e milicianos, contra quem a polícia não guerreia tanto.
Sem a ocupação definitiva sem pirotecnia e nenhuma corrupção, de todas (TODAS!) as comunidades dominadas por bandidagem, nada jamais se resolverá. Carnificinas eleitoreiras só atenderão aos interesses do poder público, em datas estratégicas para reforço ou recuperação de prestígio. É necessário que a segurança preventiva diária interesse ao poder público, sem estardalhaço e show para chamar de sucesso.
Termino com um convite para você recordar e refletir: lembra quando o Roberto Jefferson, ex-deputado branco, milionário e morador de bairro nobre (que não pode ser incomodado) recebeu policiais federais que foram cumprir um mandado de busca e apreensão em sua casa? Ele atirou nos agentes, atingiu uma policial, estava na mira, mas nenhum agente atirou de volta. Eles foram orientados a negociar. Com muito tato.
Você, aí, que defende a truculência desorganizada nas comunidades, gostaria de dizer, sem nenhum rodeio e de forma bem coerente, o que vê nisso? Sugiro nestes escritos, formas eficazes, humanas e não eleitoreiras de combater a criminalidade. Mas quem decidir falar que defendo bandido, faça isso com honestidade; sem nenhum truque: copie e cole no seu comentário o parágrafo (não uma frase solta e descontextualizada) na qual faço essa defesa... ou cale-se para sempre.
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Respeite autorias. É lei