• Baixada Fluminense | 15/12/2025 - 11:04

Sophia Miranda no Pan Kids | Foto: Saulo Melo

Shirley Costa

Por trás de uma medalha, há sempre uma grande história. A adolescente Sophia Miranda, de 14 anos, voltou dos Estados Unidos com o bronze no Pan Kids da IBJJF — uma das maiores competições de jiu-jitsu infantil do mundo. Representando o Projeto Resgate, com sede em São João de Meriti, ela embarcou com a colega Maria Clara rumo à Flórida após uma verdadeira maratona de superação, fé e união.
 

“Era algo aparentemente impossível”

A mãe de Sophia, Amanda Miranda, conta que a notícia da convocação para o Pan Kids foi recebida com uma mistura de alegria e preocupação. “Pelo fato de não termos muitas condições financeiras, sair do País seria algo aparentemente impossível. Cada etapa era desafiadora — tirar o passaporte, marcar entrevista no Consulado… Mas graças a Deus e à equipe de professores do Projeto Resgate, tudo foi acontecendo”, relembra.

Além do desempenho esportivo, Amanda destaca o quanto o jiu-jitsu tem transformado a rotina da filha: “Ela fez mais amizades, mantém boas notas na escola, ajuda em casa com responsabilidade. A prática do esporte trouxe muitos pontos positivos no comportamento da Sophia”.
 

Projeto virou referência

O Projeto Resgate foi fundado em 2017 pelo professor Saulo Melo, hoje faixa preta e líder de diversos polos espalhados por comunidades da Baixada Fluminense. O projeto nasceu dentro da própria casa do professor, após ele se apaixonar pelo esporte assistindo o filho treinar. “Começamos com 12 placas de tatame doadas, num cômodo de 12 m². Depois, alugamos outros espaços, até que conseguimos um local maior. Nunca tivemos apoio do governo, mas nunca deixamos de acreditar”, conta Saulo.

Hoje, o Resgate atende crianças, jovens e adultos, com treinos regulares, apoio emocional e espiritual, com base em princípios cristãos. Com uma equipe dedicada de professores, o projeto já formou diversos atletas de alto rendimento e se tornou referência na região — não apenas pelo desempenho técnico, mas pelo impacto social.

Professo Saulo, Sophia e equipe do Projeto Resgate | Foto: divulgação
 

Uma batalha dentro e fora do tatame

A ida das meninas aos Estados Unidos foi uma batalha à parte. Sem apoio institucional, a equipe recorreu a rifas, vaquinhas, doações e até milhas acumuladas para viabilizar as passagens. “Busquei patrocínio nos comércios locais, na Secretaria de Esporte… mas não tivemos retorno. Foi a união das famílias, dos professores e dos próprios alunos que tornou isso possível. A mão de Deus estava ali”, relata Saulo.

Sophia revela que o maior desafio foi bater o peso da categoria. “Eu estava um pouquinho acima do limite e, treinando, mantendo a dieta, comendo certinho, consegui bater o peso rapidinho”, conta. A dedicação foi intensa: “Nossa rotina de treinos era todo dia, de segunda a segunda, com foco total”.

A jovem atleta subiu ao pódio com o terceiro lugar, mas queria mais. “Eu queria realmente o primeiro, né? Eu me senti honrada, grata, mas também senti um pouquinho de decepção comigo mesma, porque eu treinei tanto…”, lamenta, mas com gratidão pela medalha e pelo aprendizado.


Do bronze ao futuro

Este foi o último ano de Sophia no Pan Kids. Em breve, ela passará para a faixa azul e poderá disputar um Mundial na Califórnia, em uma nova categoria. E ela já tem um sonho bem definido: “Quero ser uma grande atleta conhecida, ganhar vários títulos, ser patrocinada por várias marcas”.

A jovem também já foi campeã, em primeiro e segundo lugar, em campeonatos internacionais disputados no Brasil.

Sophia deixa ainda um recado às meninas que enfrentam dificuldades parecidas com as dela: “Tudo é possível, mesmo que esteja difícil. É continuar tentando, porque sempre dá certo. Acredite em Deus, mesmo que esteja chovendo, com o maior sol… foco total. Não desistir nunca.”

Para o professor Saulo, a trajetória da aluna representa a força coletiva de todo o projeto. “O terceiro lugar da Sophia foi apenas mais um pódio na vida dela. O que mudou foi o local onde ela conquistou. Isso mostra que estamos no caminho correto. Mesmo com todas as dificuldades, não paramos. E tenho certeza que coisas boas ainda virão”.

Mais do que medalhas, Sophia e o Projeto Resgate trouxeram de volta algo que não se compra: inspiração. “Sabemos que é muito difícil, já perdemos muitos jovens para o tráfico e para as coisas ilícitas. É uma luta desleal. Mas se fizermos a diferença na vida de apenas um, já teremos vencido”, finaliza Saulo.

Em meio a tantas barreiras, uma coisa é certa: a trajetória de Sophia e do Projeto Resgate já inspirou uma comunidade inteira, e agora, cruzou fronteiras.

 

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