A Jornada de um Herói | Foto: Josélia Frasão
Baixada Fácil
Com reconhecimento em importantes premiações, como o Prêmio Shell e o APTR, e mais de dois mil espectadores ao longo de cinco anos de trajetória, ‘A Jornada de um Herói’ entra em clima de despedida e celebração. O espetáculo da Baixada Fluminense, que chegou a alcançar voo internacional ao se apresentar na China, se apresentará na Escola Popular de Teatro - Instituto Cultural Cerne, neste sábado (3), às 14h, com ingresso gratuito. Esta é uma das últimas oportunidades para o público assistir ao espetáculo, que também tem apresentações finais já marcadas em outras localidades a fim de encerrar definitivamente essa jornada histórica.
Idealizado pela Companhia Atores da Fábrica, o espetáculo levou para os palcos questões urgentes como racismo estrutural, precarização do trabalho e desigualdades sociais, ocupando teatros em diferentes bairros do Rio, outros estados e até em outro continente, se apresentando presencialmente em dois prestigiados festivais na China.
Alexandre O. Gomes, diretor e idealizador do espetáculo, destaca que este foi um feito histórico para o teatro periférico brasileiro. "Apresentar a peça na China foi uma sensação de dever cumprido. Cada um de nós que estava lá carregava e representava um grupo muito maior: nossa escola e todos os artistas da Baixada Fluminense. Fomos o primeiro grupo dessa localidade a se apresentar na China com esse olhar sobre o território e sobre representatividade, levando uma peça preta para um espaço majoritariamente elitista — e ocupar esse lugar tem um peso e significado enormes”, reflete o diretor.
Rompendo a famosa estratégia narrativa chamada "jornada do herói”, que costuma estar centrada em histórias que glorificam homens brancos e ricos, ‘A Jornada de um Herói’ traz para o centro do palco o protagonismo de um homem negro, pobre, periférico e analfabeto, chamado José, magistralmente interpretado por Mateus Amorim, que também escreveu a peça. O personagem enfrenta diversas batalhas cotidianas, refletindo a realidade de muitos brasileiros que se vêem à margem da sociedade, levantando a seguinte questão: “Quem são os verdadeiros heróis?”.
Através do solo narrativo, o espetáculo convida o público a refletir sobre questões urgentes da sociedade contemporânea, como o racismo estrutural, relações de trabalho abusivas e desigualdades sociais.
O espetáculo consolidou-se como um marco de representatividade e resistência. Mateus Amorim relembra o processo de criação e os impactos da peça: "Durante a pandemia, sentimos a necessidade de olhar para os trabalhadores e suas trajetórias — e assim nasceu a ‘Jornada’. Foram muitas trocas, aprendizados, prêmios, tropeços e alegrias em fazer um espetáculo que levanta questões tão importantes. E o mais gratificante foi conseguir abordar temas tão sérios usando o humor como ferramenta, prezando sempre pela comunicação e o afeto com o público."
Apesar de ser a última temporada no centro do Rio, a despedida desse espetáculo será marcada por uma celebração à altura de sua trajetória. "Ainda vamos fazer uma circulação pela Baixada, comemorando esse legado em cinco diferentes cidades, e encerrar esse projeto tão bonito onde ele nasceu: na Escola Fábrica dos Atores e Materiais Artísticos, em Nova Iguaçu. Depois, seguiremos pesquisando outras narrativas tão potentes quanto a história do José”, pontua Mateus.
Assim como a trajetória de José, a companhia Escola Fábrica dos Atores e Materiais Artísticos prossegue com coragem, resiliência e também com criatividade, provando que o verdadeiro heroísmo está na persistência diária. A despedida de ‘A Jornada de um Herói’ é o fechamento de um ciclo, mas a luta para manter a arte periférica de pé continua firme e cada vez mais forte.
‘A Jornada de um Herói’ é apresentado pelo Governo Federal, Ministério da Cultura, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro e da Lei Paulo Gustavo.
Sinopse
Após ser demitido de uma fábrica de carvão ao questionar a diminuição do seu tempo de almoço, que passa de dez para cinco minutos, Jorge vai atrás do seu Fundo de Proteção e Garantia ao Trabalhador Desempregado, como única opção de sustento de sua família. Tal como os heróis de Homero, José enfrenta monstros e diversos outros perigos ressignificados nas dificuldades cotidianas de um homem negro, pobre, semianalfabeto e desempregado, marcando uma verdadeira epopéia urbana em que os percalços de um ônibus cheio, uma fila quilométrica e um gerente de banco esnobe, escancaram na resistência de José, o seu heroísmo.
Escola Fábrica dos Atores
O espetáculo em questão foi idealizado pela companhia Escola Fábrica dos Atores, uma iniciativa de Nova Iguaçu que oferece aulas de teatro para a comunidade a preços populares, sobrevivendo a partir de doações e editais, sem nenhum patrocínio. Apesar das dificuldades e limitações enfrentadas diariamente, a companhia segue firme, dedicando-se a trazer novas perspectivas aos jovens da comunidade, além de já ter formado diversos artistas que hoje colhem os bons frutos da arte.
Serviço:
Escola Popular de Teatro - Instituto Cultural Cerne
Data: 03/05 (sábado)
Horário: 14h
Local: Tv. Nogueira - Centro, São João de Meriti - RJ,
Ingresso: Gratuito