A LIÇÃO DOS ORIXÁS
Demétrio Sena - Magé
Gilberto Gil foi enérgico em sua reação contra o padre que ironizou a morte de Preta Gil, dizendo que os orixás não a ressuscitaram. Enérgico, porém ético e profundamente humano, como sempre demonstrou ser a sua natureza. Disse que não quer dinheiro; seu processo não envolve reparação financeira, pois sabe que o padre não teria dinheiro para tanto. A única forma de reparação exigida por Gil foi uma retratação pública do padre. O seu reconhecimento do quanto foi infeliz na declaração. Um desagravo aos familiares, amigos, outros afetos e irmãos religiosos de Preta e família.
O cantor e compositor não quer "acabar com a raça" do secardote católico, deixá-lo em apuros financeiros nem prejudicá-lo com os seus superiores hierárquicos. Ao mesmo tempo que aciona o padre, Gil demonstra que o perdoa, sem nenhum estardalhaço acerca de sua virtude. Tivesse um religioso de matriz africana ofendido publicamente um membro ou líder das religiões dominantes neste país, esse religioso estaria destruído. Tornar-se-ia um alvo de perseguição sistemática não por justiça, e sim, por vingança judicial... se a judicial não desse certo, qualquer tipo de vingança serviria, com as mais acirradas e truculentas formas de intimidação. De sobra, toda a comunidade religiosa de matriz africana seria mais perseguida e atacada do que já é, cotidianamente.
Não vejo nenhuma esperança de um mundo melhor no corporativismo das religiões dominantes, como se apresentam nestes tempos. Há exceções; conheço alguns membros e líderes dos quais não posso afirmar isso, mas a regra ou maioria é realmente terrível, como se auto propaga orgulhosamente. Todos nós temos mesmo muito a aprender com os religiosos de matriz africana e seus orixás. Observadas as exceções, quanto mais convivo com eles, mais o meu ateísmo se comove com os seus exemplos de humanismo e serenidade, apesar da minha não crença em sobrenaturais.
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Respeite autorias. É lei