PRA SER ALGUÉM
Demétrio Sena - Magé
Sei quem é quem no primeiro olhar... nos olhares seguintes. Nos afagos; os elogios. Naquelas mentiras que detecto em meio às verdades como pano de fundo, que tentam a simbiose fraudulenta. Eu sempre soube quem é quem, até sem saber que sei. No tom de voz, no silêncio, na mão estendida por marketing, obrigação social, com desejo de soltar no abismo. Nas doações de fachada e pra "Deus dar em dobro"... nas bondades oficiais e sorrisos de Coringa... favores ostensivos e perdões ao microfone; a toque de mídia.
Jamais deixei de saber quem é quem, mesmo quando precisei acreditar por sobrevivência. Quando agradeci engolindo sapos e não tive alternativa que não fosse fingir acolher o fingimento, sob pena das mais duras penas entre as plumas do "eu não queria, mas você me obrigou a fazer isso". Nasci sabendo quem é quem, por força das realidades que me cercaram desde lá. Do quase nada que sei, sei quem é quem desde o primeiro quem que alguém me apresente, na sua fila de personagens que logo desaguarão em ninguém.
Tenho que saber quem é quem, nesta sociedade que zomba do saber, sem saber que, sem saber quem é quem, a quem julgam ninguém não sobreviveria. Faço-me de bobo, apenas para fazer de bobo a quem acha que me faz... porque tudo que tenho nesta vida é a ciência que me permite atuar como ninguém... porque essa ciência, que vem do saber quem é quem, é o diploma que me qualifica para ser alguém sob o ilustre ou famoso ninguém que tantos pensam que sou. Talvez eu seja... como truque ou trunfo para ser alguém.
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Respeite autorias. É lei