Pra vocês também
Demétrio Sena - Magé
Se alguém me "deseja feliz Natal", não me sinto ofendido. A data não tem sentido para mim, embora eu tenha grande admiração pela figura humana que uns divinizam, outros fingem, mas não me ofendo. Algumas vezes, consigo até devolver aquele "pra você também", que faz uma ou outra pessoa sorrir, maliciosamente, como se houvesse ali um triunfo contra o cara "que se diz ateu". Sempre dizem que me digo ateu; temem dizer que sou. Às vezes entendo como afronta velada. Outras vezes, considero que seja uma superstição: temem admitir que acreditam que alguém não acredite.
É o mesmo caso, no dia a dia, de quando alguém me diz vá com Deus, Deus te abençoe (ou te guarde), entre outros Deus isso, Deus aquilo. O meu "pra você também" é como se eu tivesse caído em uma armadilha, não de todas as pessoas, pois algumas são sinceras, mas de muitas que vivem tentando arrancar de mim o que possam cravar como algo próximo de uma contradição. Como posso me ofender com a citação de quem não creio existir? Alguém que não tenho como amar, também não tenho como odiar. Da mesma forma, por que me ofender quando alguém manifesta o desejo de que o meu dia, seja ele qual for, tenha paz, harmonia e risos?
O que tento ver, quando me cumprimentam com saudações natalinas, são pessoas me desejando algo de bom em uma data separada no calendário cristão, para isso. Aceito, como o faço a qualquer dia do ano, se alguém declara me querer bem. O vá com Deus, Deus te abençoe ou guarde, recebo da mesma forma, se reconheço a sinceridade, a transparência de quem me cumprimenta, seja presencialmente ou por mensagem eletrônica pessoal; não os disparos maciços e apressados de quem quer "lacrar" com o alcance de milhões de pessoas. Quer ganhar ou manter seus seguidores.
Repito: não há como odiar Quem acho que não Existe. As iniciais maísculas mostram meu respeito a quem acredita. Realmente não posso me ofender com os cumprimentos de quem festeja o aniversário de um ser humano tão especial, que admiro tanto, e creio ter existido, embora não creia que seja o filho legítimo dAquele no Qual não acredito. A data não me representa, com sua aura de sobrenaturalidade misturada com fé mercantil e aumento brutal das desigualdades sociais. Mesmo assim, para todos que me desejam algo de bom, deixo meu bom e velho "pra vocês também".
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Respeite autorias. É lei