VERO; VERÍSSIMO
Demétrio Sena - Magé
Em minha adolescência difícil, tive a sorte de conviver com livros. Muitos livros. Colegas emprestavam, nas escolas, e fora delas, as pessoas liam bastante... após lerem, faziam algo bem cruel, mas que neste caso, foi a minha sorte: descartavam os livros. Uns jogavam fora e outros deixavam pelos cantos. Eu achava bastantes livros, e algumas vezes, pedia os que via desprezados em casas de colegas e até na escola. Não me constrangia com o meu "olho grande" nessa "coisa do zôto".
Foi aí que tive contato com os livros do Veríssimo. Amei a leveza, o ritmo fácil de sua escrita e me tornei seu fã, como já era do Manuel Bandeira e passei a ser do Fernando Sabino. Uma curiosidade pessoal é que depois de lidos, eu confundia os livros do Veríssimo com os do Sabino. Faz pouco tempo, me referi ao livro O Homem Nu, do Sabino, como se fosse do Luís Fernando Veríssimo. Tenho um transtorno que me faz confundir autores e não decoro fragmentos de livros nem citações, para usar nas rodas de conversas. Não consigo. Ao escrever muitos de meus textos, guardo-os inteiros na mente. Mas não tenho a mesma habilidade com o texto alheio. Confesso; esta é uma de minhas grandes frustrações.
Outra curiosidade (esta, sobre o próprio Veríssimo), é que nas escolas, os livros dele não ou quase não eram prescritos. Lembro-me de haver lido quase todos os clássicos (emprestados por colegas) por ordem dos professores, mas não me mandavam ler os livros do Veríssimo. Não nas escolas de rede pública por onde passei, na adolescência.
Hoje acordei com a notícia de que o Luís Fernando Veríssimo faleceu, aos oitenta e oito anos de idade. Não tenho como não sentir. Ele faz parte das lembranças de consolo, risos solitários e fantasias juvenis nas brechas de minhas tristezas reais, e ainda é um dos autores que mais releio. Ontem mesmo, terminei de ler o livro Comédias Para se Ler na Escola, de crônicas escolhidas do Veríssimo. Hoje as escolas consomem a literatura de Veríssimo. Seus textos ainda não são de domínio público, mas, com certeza, os pagamentos dos direitos autorais já devem ser bem menores. As editoras detestam pagar direitos.
Vá em paz, Luís Fernando Veríssimo. Ao mesmo tempo, fique aqui em seus livros.
... ... ...
Respeite autorias. É lei